Um caso misterioso vem chamando a atenção da
população de Riachão do Jacuipe, na região da Bacia do Jacuipe. Um
cachorro tem comparecido com freqüência às missas, vai aos velórios e
acompanha sepultamentos. Batizado
como Navegante, mas já conhecido popularmente como “Beato Salu” -
personagem da novela global Roque Santeiro -, a presença do cachorro
nestes eventos ainda passa despercebido para alguns, mas virou atração e
motivo de curiosidade para muitos em Riachão. “Eu
nunca vi uma coisa dessas. Parece que ele é guiado por algo assim...
como um fenômeno. É uma coisa fora de série”, disse Manoel Inez de Lima,
mais conhecido como Nezinho, morador da Avenida Landulfo Alves e que
toma conta do cemitério da cidade. Recebido
por nossa reportagem em sua residência, Nezinho contou com detalhes os
fatos que ele considera “anormais” e os últimos passos de “Beato Salu”,
que vêm chamando a atenção de muitas pessoas. “Há
uns dois anos que ele acompanha enterros, não perde as missas
dominicais (de manhã e à noite) e as terças de Santo Antonio. Ele também
vai aos velórios e acompanha os sepultamentos até a cova,
principalmente de algumas pessoas, como se tivesse mais estimação.
Frequenta também os cultos da Igreja Batista”, explica. Apegado
ao animal, que diz ter mais ou menos 10 anos de idade, o responsável
pelo cemitério e Capelinha (que fica ao lado) já sabe muito sobre ele.
Como Nezinho, Zé Bico, que também trabalha no local, quando o assunto é
“Beato Salu”, sorri e aprova tudo. Segundo
Amarilio Soares, o proprietário do animal é um senhor de 96 anos,
conhecido por Germírio, morador no Alto do Cemitério, em Riachão. Neste
bairro também reside Maciel, que presta serviços à Igreja Católica e
sempre coloca água e comida para o cachorro. Fatos curiosos Devido
ao comportamento atípico do animal, as pessoas passaram a acompanhar os
seus passos mais de perto. Neste domingo (15), nossa reportagem esteve
na cidade para atestar os boatos. Por volta das 11h, ele entrou na
Igreja Matriz, onde acontecia a celebração da missa dominical. “Beato
Salu” entrou por uma porta lateral e sentou próximo aos bancos onde se
encontravam os fiéis e ficou com os olhos fixos no padre. “Ele é educado
e fica atento ao que o padre fala. Ele é sabido demais!”, comenta
Nezinho, abismado com o animal. Segundo
informações, durante a Semana Santa o cachorro acompanhou as Vias
Sacras organizadas pela Igreja Católica, mas esteve um pouco confuso
devido ao número de atividades no período. “No Dia de Finados ele (o
cachorro) entrou no cemitério, passou pela Capelinha, olhou, entrou e
ficou durante uns 5 minutos e depois foi embora”, informou Nezinho. Falecido
no último dia 5 de maio, o Professor Almir José de Oliveira já teria
alertado a alguns amigos sobre o caso. Justamente durante o seu velório e
sepultamento, “Beato Salu” aprontou mais uma. “Ele chegou ao velório e
ficou embaixo da bancada do caixão e só saiu na hora do sepultamento,
que acompanhou até o cemitério”, informou uma pessoa que esteve
presente. “No
enterro de uma mulher da comunidade de Traz da Roça ele estava sentado
junto à imagem de Nossa Senhora, que fica na Praça, próxima da Igreja.
Quando o cortejo estava chegando eu fui até ele e falei: Beato Salu, o
caixão está chegando, você não vai não? Aí ele se levantou rápido e
começou a acompanhar”, lembrou Nezinho. “Ele estranhou o motorista que
dirigia o carro funeral (não foi o de sempre) e latiu. Aí eu cheguei
perto dele e pedi para parar e ele obedeceu. Mas, sempre, ele não
estranha e não agride ninguém”, acrescentou. Curioso
com o caso, o vereador Carlos Matos trouxe outro exemplo, concordando
que existe “algo de anormal”. Ele lembra que é comum alguns cortejos
passarem pela Igreja e outros irem direto para o cemitério, o que
poderia confundir o animal, mas isso não ocorre. “No enterro de um rapaz
do povoado de Baixa Nova, que fica em outra posição geográfica em
relação à igreja, ele foi direto para o cemitério esperar a chegada do
caixão. Por que ele não foi esperar na igreja, como fez em outros
sepultamentos?” questiona o vereador. A explicação do fenômeno Para
explicar o “fenômeno”, a reportagem do Interior da Bahia colheu
informações de pessoas com diferentes crenças religiosas e pensamentos. O
comportamento atípico do cachorro “Beato Salu” já extrapolou as
conversas nas esquinas da cidade de Riachão do Jacuipe para análises
mais aprofundadas. “Eu vejo como uma coisa sobrenatural, que estaria
ligado ao outro mundo”, sintetiza Carlos Matos, puxando para o viés
espírita. “E inexplicável”, acrescenta Amarílio Soares, sem conseguir
detalhar. Já
o comerciante e membro da Igreja Batista, Catarino Azevedo Rios, que
revela que o animal também frequenta os cultos da sua igreja, simplifica
e, ao mesmo tempo, bota mais mistério no caso. “Pode ser uma dessas
particularidades difícil do ser humano assimilar. No meu entender, ele
(o cachorro) é uma criatura de Deus. Parece que, em alguns momentos, ele
reclama de algo. Às vezes, ele quebra o silêncio e se manifesta como se
estivesse reclamando de alguma coisa. Pode estar passando alguma
mensagem até para o homem, que se julga acima das outras criaturas”,
explicou Rios. “Tem
um texto bíblico que diz que até com as pedras do campo Deus tem pacto.
Então, quando há uma manifestação dessas criaturas em nosso meio, chama
a atenção porque é de difícil compreensão. É uma forma de Deus chamar a
atenção. Por que não aprendemos com esses exemplos?”, acrescenta
Catarino Rios, pondo razão às mensagens de “Beato Salu”. Sem
conhecer ainda o animal, o comerciante e presidente do Centro Espírita
Jesus Nosso Mestre, João da Anunciação Barbosa, confessa que já ouviu
comentários sobre o caso. “Tudo o que ocorre é natural. Se o cachorro
está presente, é porque ele procura ou acompanha alguém invisível”,
explica. “O cachorro não tem mediunidade, ele percebe algo invisível,
que gosta de frequentar esses ambientes. Se esta pessoa estivesse
encarnada, estaria no ambiente e ele estaria junto com ela”, acrescenta
Barbosa. Uma
frequentadora da Igreja Católica, que não quis se identificar, disse
que não existe nada de anormal no comportamento do cachorro. Contudo,
lembrou que São Francisco de Assis, nas suas pregações, quando percebia
que não era ouvido pelos homens, se dirigia aos animais. Baseado
nisso, se os homens vêm deixando de escutar a Deus, não seria o caso de
fazê-lo ouvir através do animal? Religiões ou crenças à parte, bem que
se pode fazer um link com a versão da católica com a de Catarino Rios
(evangélico), ou mesmo de João Barbosa (espírita). Talvez sejam
discursos diferentes, mas que se cruzam nas entrelinhas. Ou não?
Por Evandro Matos Fonte: Interior da Bahia
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